segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Perdas de reflexo e da vida

Se for dirigir, não beba. Se beber, não dirija. O famoso slogan, usado em diversas campanhas educativas que alertam para o perigo da mistura álcool e direção, ainda entra por um ouvido e sai pelo outro de muitos brasilienses.O Ministério da Saúde lançou, recentemente, nova campanha publicitária alertando sobre os riscos e danos associados ao consumo de bebidas alcoólicas. Um dos anúncios veiculados na televisão e no rádio reforça os apelos com o tema "Trânsito – bebida não é só diversão". Mas, apesar dos esforços do Governo Federal e dos Detrans de todo o País, a combinação desastrosa continua fazendo a cabeça de muitos jovens. E o que é pior, matando ou deixando seqüelas em milhares de vítimas.Dados do Detran/DF revelam que no 1º semestre de 2007, 500 condutores tiveram a Carteira de Habilitação apreenddida por agentes do órgão ou por policiais civis e rodoviários. O motivo? Eles dirigiam completamente embriagados.O problema parece estar enraizado na cultura dos brasileiros. Em 2001, uma pesquisa da Associação Brasileira de Detrans (Abdetran) em quatro grandes capitais (Brasília, Curitiba, Salvador e Recife) apresentou resultados preocupantes: 61% das pessoas envolvidas em acidentes de trânsito tinham ingerido bebida alcoólica. No estudo, Brasília apareceu como a capital recordista. As avenidas largas que convidam à velocidade, o índice chegou a quase 78%.Em 2005, o trânsito na região da capital do País fez 442 vítimas fatais. Um trabalho intitulado Estudo dos Níveis de Alcoolemia nas Vítimas Fatais de Acidentes de Trânsito no DF, divulgado este ano pela Faculdade de Medicina da UnB, analisou 442 cadáveres. Quase metade (44,8%) das vítimas estudadas, entre pedestres e motoristas, apresentava níveis de álcool acima dos 0,6 g/l permitidos por lei, o equivalente a três chopes. Entre as vítimas de colisão, 44,24% tinham níveis de álcool acima de 0,6 g/l, sendo 92% delas condutores dos veículos. Quase 60% das vítimas de capotagens apresentavam níveis de álcool maiores que 0,6 g/l. Neste caso, 84,6% eram condutores. O Código Nacional de Trânsito considera que o motorista não reúne mais condições para dirigir com segurança a partir de 0,6 gramas de álcool por litro de sangue.

Mistura fatal

O levantamento da UnB, realizado pela equipe do médico-legista Manoel Eugênio Modelli, revelou que jovens do sexo masculino são as maiores vítimas da mistura fatal de bebida alcóolica e direção. A pesquisa detectou ainda que a maioria dos acidentes com mortes acontece no fim de semana, entre 18h e meia-noite. Dos 442 corpos pesquisados, 368 (83,1%) eram homens e 283 (63,9%) eram solteiros. A maioria das vítimas tinha de 18 e 35 anos.

De acordo com o gerente de Fiscalização de Trânsito do Detran-DF, Silvain Fonseca, as madrugadas são críticas. "Infelizmente, a irresponsabilidade diante da combinação álcool e direção tem causado mortes trágicas a qualquer hora do dia. Os jovens bebem de segunda a domingo, e não há como negar que o número de fatalidades aumenta nas madrugadas dos fins de semana", diz.

Auto risco de acidentes

As reações do organismo pelo consumo de álcool variam de pessoa para pessoa. Mas o sistema nervoso sempre é alterado, podendo passar da euforia e excesso de confiança para a depressão total. Os reflexos ficam comprometidos e tornam-se lentos, interferindo na capacidade de avaliar riscos e dirigir com segurança. O resultado é o risco iminente de acidentes, muitos deles fatais, colocando em risco a vida de outras pessoas.Há três meses a engenheira Maria Luíza*, de 26 anos, quase aumentou as estatísticas que apontam a quantidade de vítimas fatais no DF. Ela passou a tarde de domingo em uma festa na casa de um amigo. "Passamos horas bebendo frozen, uma mistura de vodka ou cachaça com suco de frutas. Tomei pelo menos 12 doses", conta Luíza. De acordo com ela, por volta das 21h, a turma de amigos resolveu fechar a noite em uma das casas noturnas da capital."Até hoje não me lembro exatamente a razão, mas decidi não acompanhá-los e, apesar de estar completamente embriagada, resolvi ir para casa, dirigindo sem o cinto de segurança e falando ao celular", acrescenta. Em uma das curvas do caminho, a engenheira bateu na traseira de um carro e depois foi de encontro a um poste de concreto.Com o impacto da colisão, Maria Luíza quebrou o vidro pára-brisa dianteiro com a cabeça. "Perdi a consciência no momento da colisão. Me recordo somente que falava ao celular com uma amiga que pedia insistentemente para que eu desligasse o aparelho. Por sorte, ela escutou o barulho do impacto e ligou imediatamente para meus pais", conta.

Desfecho feliz

Mas a sorte da jovem não parou por aí. Uma ambulância do Samu passava pelo local e a socorreu. "Soube depois que fui encaminhada para o hospital em estado grave, em coma. Estava tão bêbada que não lembro o percurso que fiz até o momento da batida. Não sinto orgulho do que aconteceu e, embora tenha me machucado muito, confesso que o desfecho da história poderia ter sido trágico", afirma.Maria Luíza acordou no hospital três horas após o acidente. O carro da engenheira está na oficina mecânica até hoje. A família gastou mais de R$ 8 mil para reparar os danos do veículo atingido pela engenheira e o seu próprio automóvel. Os gastos com o hospital e com os medicamentos também foram grandes.

Perdas

Mas, os prejuízos foram além das perdas financeiras. Por causa da pancada, ela perdeu um grau de visão de um dos olhos. A sensibilidade do lado esquerdo da cabeça também foi muito afetada e até hoje a jovem toma remédios para recuperar a memória imediata. No rosto, ficaram as cicatrizes dos cortes e um hematoma escuro embaixo dos olhos que insiste em não desaparecer. "Voltei a trabalhar, mas estou tendo acompanhamento neurológico e ainda temo as sequelas que podem aparecer", confessa. Mas algo positivo pode ser tirado do episódio."Felizmente a única vítima fui eu. Me sinto aliviada por não ter causado a morte de um inocente. Na mesma semana do meu acidente, três amigos meus bateram o carro pelo mesmo motivo. Em um dos casos, um inocente atingido pela colisão acabou falecendo", conta. "Não me considero uma pessoa de sorte, mas acredito que Deus estava olhando por mim, pois além das cicatrizes poderia estar carregando a culpa de ter matado um inocente", conclui.

Imprudência ao volante

A psicóloga Juliana Almeida, 28 anos, passou por um susto há dez dias. Ao voltar da balada por volta das três da manhã de uma sexta-feira, seu carro foi atingido por um veículo conduzido por uma jovem de 19 anos. "Fui completamente surpreendida com a colisão. A pessoa que dirigia o outro veículo não respeitou o sinal vermelho bateu na traseira do meu carro. Com o impacto, rodei e bati no poste do sinaleiro".De acordo com Juliana, as pessoas que a socorreram relataram que a motorista que furou o sinal esboçava sinais de embriaguez ou de estar sob o efeito de substância entorpecente. "Infelizmente não podemos acusá-la e fazer com que ela responda pelo seu ato, pois não foi feito o teste do bafômetro. Os policiais que foram até o local não tinham o aparelho que poderia comprovar e acusar a quantidade de bebida que ela havia ingerido", conta.Ao ser examinada, os médicos constataram que a clavícula de Juliana estava quebrada pelo impacto da batida. "Terei que me submeter a uma cirurgia para consertar o estrago. Tenho passado por momentos difíceis, pois além da dor, minha vida parou. Fiquei completamente dependente da minha família. Não posso fazer nada sem a ajuda deles. Espero que, com a cirurgia, possa voltar a ter uma vida normal", diz ela, na porta do hospital.

Polêmica

Há uma discussão em torno do aparelho que mede a quantidade de álcool ingerido pelos motoristas por conta de um artigo da Constituição Federal que determina que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. No entanto, agentes do Detran explicam que somente aqueles que estão realmente alcoolizados se negam a fazer o teste do bafômetro."Neste caso, temos a obrigação de encaminhar a pessoa até a delegacia. O que muitos não sabem é que os sinais de embriaguez detectados pelos agentes de trânsito ou policiais que realizam blitze caracterizam provas contra o motorista que coloca sua vida e a vida de outros cidadãos em perigo, mesmo que ele se negue a fazer o teste. É o que diz a Lei 11.275, de sete de fevereiro de 2006, do Código de Trânsito Brasileiro", explica o gerente do Detran, Silvain Fonseca.Ele alerta que os motoristas devem entender que o objetivo dos agentes não é penalizar. "Nossa intenção é educar e prevenir acidentes e mortes, tirando das ruas uma pessoa que pode causar danos a si própria e a terceiros. Diariamente, nos deparamos com histórias muito tristes por causa da falta de consciência e amor a vida", diz.

De acordo com Fonseca, o teste de alcoolemia tem a função de detectar se o motorista ingeriu mais álcool do que permite o Código de Trânsito Brasileiro, ou seja, 0,6 gramas por litro de sangue. "Quando detectamos estado de embriaguez, recolhemos a Carteira de Habilitação e o motorista é notificado. Mas a legislação também garante o direito a defesa.

Pedestres alcoolizados

Um estudo da UnB também mostrou que pedestres embriagados podem ser responsáveis pelos acidentes de trânsito. Corpos autopsiados na pesquisa da UnB revelaram um dado interessante. Os maiores índices de álcool, cerca de 2,46 g/l de sangue, foram encontrados justamente nos pedestres mortos em acidentes.

O diretor do Detran-DF, Délio Cardoso, afirma que o problema preocupa as autoridades. "Além das campanhas conscientizadoras, desenvolvemos um trabalho preventivo próximo a bares e casas noturnas para alertar do perigo da mistura álcool e direção. Também estamos fazendo um trabalho educativo com professores para que levem aos estudantes a questão da bebida", diz Délio. Ele reforça que os pais precisam colaborar no trabalho de educação, orientando e fiscalizando seus filhos.

Homens no topo da estatística

Os agentes do Detran que trabalham na prevenção de acidentes e fiscalização da ruas contam histórias impressionantes. A reportagem do Jornal de Brasília acompanhou uma blitze de rotina, com a utilização do bafômetro. O agente Alexandre Alves trabalha no órgão há 20 anos e diz que os agentes são preparados para lidar com as mais diversas situações. "Sabemos reconhecer um motorista alcoolizado e passamos por situações complicadas. Muitas vezes, motoristas embriagados jogam os veículos em cima dos agentes, agridem e ameaçam. As estastísticas não mentem – os homens realmente são os mais envolvidos nestas situações, mas o número de mulheres dirigindo alcoolizadas tem aumentado", constata.

Teste

O agente conta que o teste é proposto ao motorista. "Não podemos obrigar, mas caso ele se negue, não temos outra opção a não ser encaminhar o caso à Delegacia de Polícia. Felizmente, também encontramos pessoas de bom senso e sabem da importância do trabalho". É o caso dos servidores públicos Pedro Francisco de Lima, 58 anos, e Francisco de Souza Corrêa, 36, que não se negaram a fazer o teste. "É importante fiscalizar quem dirige pelas nossas avenidas. Esta medida pode salvar vidas. Conheço pessoas que ficaram aleijadas ao se acidentarem por estarem bêbadas", diz Pedro.

"Certa vez, presenciei um atropelamento e o motorista estava embriagado e se recusou a fazer o teste. Acho que quem não deve, não teme". Ele diz que os efeitos da bebida prejudicam o reflexo e a habilidade. "Os jovens estão ultrapassando os limites, as baladas incentivam a ingestão de álcool. O problema é que nem todos têm a consciência de não dirigir após ingerir bebidas alcóolicas", afirma. O teste dos dois deu negativo.

Fonte: Jornal de Brasília





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Nao A Violencia lyrics

Voce se esqueceu Do que aprendeu. Quando cresceu, Voce me abandonou. Nao vejo mais voce sorrindo. Voce se esqueceu Que o mundo e lindo. Cade aquela criança, A inocencia, Esperança que voce Trocou por violencia. Sei que voce Vai voltar pra gente. Tornaremos este Mundo diferente. Grite,de um Brado de paz; Odio...nao,jamais! Ponha a mao na conciencia; Diga nao,nao a violencia!

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